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Homem sem fé - Conto

  • Foto do escritor: Escritamente
    Escritamente
  • 23 de fev. de 2023
  • 2 min de leitura

Atualizado: 15 de mar. de 2023

Olá pessoal,


Já imaginaram uma pessoa que teve sua confiança estilhaçada e agora não consegue acreditar em nada? Pois o conto abaixo é sobre alguém assim. Espero que gostem :D


Sem mais delongas:


Homem sem fé


Em meio ao concreto, asfalto e aço, havia um homem andando no calçadão sem acreditar em nada. Sua confiança tinha sido despedaçada e espalhada pelos cantos de sua casa, e ninguém, nem ele mesmo se pôs a recolhê-la. Ainda assim, o natal estava chegando e presentes ele tinha que comprar, já que não acreditava que Papai Noel traria algum para seus filhos. Foi até uma loja que dizia que quanto mais comprasse, mais ele iria economizar, mas ele não acreditou nas porcentagens e seguiu em frente. Continuou andando em meio a multidão sufocante e viu um poeta cego sobre um papelão proclamar sobre Cristo, mas ele não acreditou no que ouviu, pois não podia ver. Passou por um autofalante que gritava Gita na voz de Raul, ele parou e ouviu, mas saiu de perto sem sentir nada, sem acreditar na letra. Andou sob o calor até sua boca secar, viu um vendedor dizendo que a água de coco matava a sede, mas sem nem pensar muito, ele não acreditou. Continuou caminhando, seus olhos e ouvidos sendo atacados por todas as propagandas, todas as promessas, todas as vozes e sons que lhe diziam que sua vida seria melhor se ele tivesse fé, mas ele acreditou em nenhuma, nem mesmo nas que lhe queriam bem. Já havia andado tanto, olhado tanto, ouvido tanto, mas nem uma única sacola pendia de seus dedos. Quando parou de frente ao sinaleiro, sua testa estava molhada de suor, seus olhos estavam secos e empoeirados, mas ainda pensou em acreditar na placa que dizia para aguardar o verde, mas sua crença estava em casa, então ele seguiu. Por puro azar, apesar de não acreditar em sorte, o homem sem fé teve seu corpo atirado de volta ao calçadão por um para-choque de plástico, em seus momentos finais, ele olhou para o sol, que teimava em queimar sua retina desde cedo e pensou nos presentes, no Papai Noel, nos percentuais, no poeta, no cantor e quis muito beber água de coco, era mesmo uma pena ele não ter acreditado, mas como poderia? Sua confiança estava em pedaços.

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