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O Girassol - Conto

  • Foto do escritor: Escritamente
    Escritamente
  • 13 de mar. de 2023
  • 4 min de leitura

Olá pessoal,


Este conto foi criado para uma pessoa muito especial para mim e foi fortemente inspirado pela música O Girassol da banda Ira!


A pessoa especial disse que adorou, espero que gostem também :D


O Girassol


Que viajem longa, ambos pensaram, apesar de não ter passado vinte minutos desde que saíram. O homem, ao volante, matutava pedidos de desculpas, mas nada parecia bom o bastante. A mulher olhava para as luzes da cidade, era noite e estava chovendo, e ela não parava de se martirizar, sobre o quão burra tinha sido ao dar mais uma chance.


“Olha, eu…”, ele tentou começar a falar, para pelo menos quebrar o gelo, “Não quero ouvir mais desculpas”, ela interrompeu indignada, seu coração tão ferido que apenas estarem próximos era suficiente para abrir os pontos. Não era para ter sido assim, essa noite era para eles se reconciliarem, era a chance dele se abrir mais, era a chance dela aceitá-lo como é. Porém, se perderam do propósito, colocaram espinhos na mesa onde deveria haver apenas pétalas, jogaram veneno na ferida que deveria receber remédio. O carro, ia de volta a casa da moça, para deixá-la e nunca mais buscar, no som, tocando baixinho, começou uma música que conheciam.


Tento me erguer

Às próprias custas


A música melosa era demais para ela, não tinha clima nenhum para isso, ela avançou no painel para trocar para a próxima ou simplesmente zerar o volume. “Não, não, deixa”, ele insistiu, disse com a convicção que lhe faltara desde que se sentou no banco do motorista. “Hmpf”, ela apenas fungou sem dizer nada. Não deixando de estar magoada, sua alma estava ficando irritada também, mas a noite já tinha sido ruim o bastante e não queria criar outra discussão, deixe tocar, pensou antes de voltar o rosto para a janela.


E caio sempre nos seus braços

Um pobre diabo é o que sou


A primeira estrofe nem tinha acabado, o homem começou a cantar, de início bem baixinho, mas sua voz foi crescendo.


Um girassol sem Sol

Um navio sem direção

Apenas a lembrança

Do seu sermão


A mulher não estava disposta a ouvir, “Para de cantar, você só sabe me irritar!”, mas ele não parou, e ela insistiu, já estava no limite da paciência, mas o rádio não esperou para ouvir se o homem iria responder e a música continuou.


Você é meu Sol

Um metro e cinquenta e cinco de Sol

E quase o ano inteiro

Os dias foram noites

Noites para mim


Era isso, não aguentava mais, a cada verso ele cantava mais alto, não é possível que este homem não tenha entendido que ela só quer paz para chegar em casa e se acabar no travesseiro, como há de fazer qualquer um que desista de uma paixão, mesmo aqueles que já sofreram muito por ela. Ela olhou furiosa, mas a raiva desabrochou em empatia, porque viu escorrer, dos olhos do homem, lágrimas cheias de emoção.


Meu sorriso se foi

Minha canção também

Eu jurei por Deus

Não morrer por amor

E continuar a viver


O carro parou em uma estradinha de terra, ele não conseguiria dirigir e fazer o que precisava simultaneamente. “Desculpa, eu sei que não sei falar dos meus sentimentos”, a voz estava mudada, um nó de emoções pressionava as cordas vocais, o rosto da mulher se aqueceu ao ouvir. “Eu sei que sou fraco e covarde, eu queria conseguir falar com mais facilidade, sobre o que eu sinto por você”, enquanto tentava abrir seu coração, forçando-o com braços de ferro e dedos de plumas, ele sentia uma avalanche rolando sob sua face.


Como eu sou girassol

Você é meu Sol

Como eu sou girassol

Você é meu Sol

Como eu sou girassol

Você é meu Sol


Atônita, ela o encarava. Estava sendo tão sincero quanto ela esperava que fosse, parecia outro homem, não mais aquele bruto que se escondia atrás de sorrisos falsos e frases de efeito. Forçando sua vontade, ele arrancava as palavras de sua boca, já que seu coração não era acostumado a derramá-las.


Morro de amor e vivo por aí

Nenhum santo tem pena de mim

Sou agora um frágil cristal

Um pobre diabo

Que não sabe esquecer

Que não sabe esquecer


“Eu não esqueço você, quero dizer, eu te amo, é isso, não é fácil para mim dizer isso, mas eu te amo mais do que tenho medo de meus sentimentos”, mal havia terminado de falar, ela o puxou, enquanto a chuva caía miúda do lado de fora, o beijo, molhado e salgado, deixava ambos encharcados de amor, pois era só isso que ela queria, apenas que ele se tornasse ele, apenas que se apresentasse a ela de alma nua, sem timidez, orgulho ou vergonha. O beijo foi a resposta dela, não disse nenhuma palavra, pois não havia necessidade, ele só precisava falar e ela só precisava ouvir e assim foi. O homem colocou tudo sobre o painel de plástico, todos os seus medos, tudo aquilo que achava ruim e o que amava na mulher, foi sincero pela primeira vez desde que se conheceram.


Nessa noite, eles cumpriram o objetivo, fizeram a reconciliação e assim como um osso quebrado se fortalece ao se cicatrizar, o vínculo deles se tornou uma corrente inabalável. A música já tinha terminado de tocar fazia tempo, mas antes do carro voltar pro asfalto, havia recomeçado, “Vai cantar de novo?”, ela perguntou brincando, “Sempre”, respondeu sério.


O Girassol tocou até chegarem na casa dela, na garagem, não um, mas os dois desceram. Dessa noite em diante, a música do casal se eternizou no som acústico de Ira!


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